As análises de Platão sobre a corrupção do Estado são sustentadas pelo princípio da
correspondência perfeita entre a alma e os costumes do individuo, e as
instituições do Estado: os governos e as constituições, ele diz, "não
provêm de um carvalho ou de uma rocha", mas, "dos costumes morais que
existem no Estado".
As formas corrompidas do Estado enumeram-se na seguinte
ordem: 1) a timocracia, que é uma forma de governo que se apoia sobre o
reconhecimento da honra como valor supremo; 2) a oligarquia que é uma forma de
governo fundada sobre a riqueza entendida como valor supremo (e, portanto, em
mãos dos poucos que detêm as riquezas); 3) a democracia, que Platão entende no
sentido pejorativo de demagogia; 4) a tirania, que representa, para o nosso
filósofo, um verdadeiro flagelo da humanidade.
O Estado ideal que nos é descrito por Platão é uma
"aristocracia" no sentido mais forte e mais significativo do termo,
vale dizer, um Estado guardado e governado pelos melhores por natureza e por
educação, fundado sobre a virtude como valor supremo e caracterizado pela
primazia, nos seus cidadãos, da parte racional da alma.
A "timocracia" (que Platão identificava
substancialmente com o regime político espartano) rompe já esse equilíbrio
essencial do Estado perfeito, porque substitui a honra à virtude, buscando, por
assim dizer, o efeito sem a causa. Nessa forma de Estado, a mola da vida
pública é a sede de honras e, portanto, a ambição, enquanto na vida particular
já prevalece, habilmente escondida e mascarada, a sede de dinheiro. Na alma do
cidadão desse Estado, acontece já um desequilíbrio entre as diversas
faculdades, entre a parte racional e as duas partes irracionais, até que a
parte mediana (a "inflamada" ou "irascível") não acabe por
predominar sobre as outras.