terça-feira, 22 de julho de 2014

Sobre o pensamento trágico e o otimismo




Os seculares são atualmente na história muito mais otimistas do que os religiosos - uma certa ironia dada a frequência com que os religiosos foram ridicularizados pelos não-religiosos por sua aparente ingenuidade e credulidade. São os seculares cujo anseio pela perfeição cresceu de forma tão intensa que os levou a imaginar que o paraíso pode ser obtido nesta terra em vez de alguns anos mais de crescimento financeiro e pesquisa médica.
Sem tomar conhecimento da contradição, eles podem, num só fôlego, rispidamente descartar a crença nos anjos, enquanto sinceramente confiam que os poderes do FMI, do setor médico, do Vale do Silícioe, da política democrática, em conjunto, irão curar os males da humanidade.
A despeito de momentos ocasionais de pânico, muitos dos quais ligados a crises nos mercados, guerras ou pandemias, o mundo secular contemporâneo mantém uma devoção irracional à narrativa da melhora, baseada numa fé quase messiânica nos três grandes motores da mudança - ciência, tecnologia e comércio.
A incompatibilidade entre a grandeza de nossas aspirações e a dura realidade de nossa condição gera violentas decepções que torturam nossa vida e deixam marcas em nossos rostos.
Blaise Pascal se destaca pela natureza excepcionalmente impiedosa de pensamento trágico. Em seu livro Pensamentos, Pascal não desperdiça oportunidades de confrontar seus leitores com provas da natureza resolutamente desviante, lamentável e indigno da humanidade.
Segundo Pascal, não tendo os homens podido curar a morte, a miséria, a ignorância, acharam de bom aviso, para se tornarem felizes, não pensar nisso; eis tudo o que puderam inventar para se consolarem de tantos males. Mas, é uma consolação bem miserável, de vez que acaba, não por curar o mal, mas por ocultá-lo simplesmente por pouco tempo e, ocultando-o, fazer que não se pense em curá-lo de verdade. Assim, por um estranho desequilíbrio da natureza do homem, resulta que o desgosto, que é o seu mal mais sensível, seja até certo ponto ó seu maior bem, porque pode contribuir mais que todas as coisas para fazê-lo procurar a sua verdadeira cura; e que o divertimento, que ele encara como o seu maior bem, é na realidade o seu maior mal, porque impede, mais que todas as coisas, que ele procure o remédio para os seus males: e ambos são uma prova admirável, da miséria e da corrupção do homem e, ao mesmo tempo, da sua grandeza, de vez que o homem se aborrece de tudo e só procura essa multidão de ocupações porque tem a ideia da felicidade que perdeu e que, não a achando em si, é por ele procurada inutilmente nas coisas exteriores, sem poder contentar-se nunca. Por ser incapazes de curar a morte, a miséria, a ignorância, os homens lembram-se, para ser felizes, de não pensar nisso.

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