segunda-feira, 17 de junho de 2013

A destruição da moral platônico cristã e a vinda do relativismo


O Iluminismo assim como o renascimento teve grande impacto no ocidente enquanto fenômeno não só histórico, mas cultural. Buscava-se substituir a metafísica cristã herdada de Platão e Aristóteles, pela razão (desde os gregos e na Idade Média se valorizava a razão). Queria-se destruir todo o sistema filosófico antigo e colocar em sue lugar uma nova maneira de pensar. Isso acabou gerando o niilismo, porque sem a metafísica cristã para servir de esteio para os valores, logo a moral laica iluminista não se sustentaria, caminhando para o niilismo e esse niilismo nos levaria a revolução sexual atual. A total falta de valores e promiscuidade é nada menos do que filho do resultado dos iluministas quererem varrer para longe os valores cristãos. Graças a eles as pessoas estão se reduzindo a animais.



A Moral de Platão



Num primeiro momento, Platão polarizou quase toda a sua atenção sobre os valores da alma como se fossem os únicos valores, pouco a pouco, solicitado sobretudo por seus interesses políticos, atenuou a desvalorização dos outros valores e chegou à dedução de uma verdadeira e própria tábua de valores, a primeira sistemática e completa que nos foi transmitida pela antiguidade.

1) O primeiro e mais elevado lugar pertence a Deus e, portanto, aos valores que podemos denominar religiosos.
2) Logo após Deus vem a alma que é, no homem, a parte superior e melhor, com os valores que lhe são peculiares da virtude e do conhecimento, ou seja, com os valores espirituais.
3) Em terceiro lugar, vem o corpo com seus valores (os valores vitais como hoje se diria).
4) Em quarto lugar, vêm os bens da fortuna, as riquezas e os bens exteriores em geral.


Como é evidente à primeira leitura dessa tábua, o lugar que cada valor ocupa corresponde, exatamente, ao lugar que, na ontologia geral de Platão, ocupa cada um dos seres a que eles se referem. E como o sensível é inteiramente dependente do supra-sensível, de tal modo que ele é somente em função do ser supra-sensível, assim os valores ligados ao sensível são e valem somente em função dos valores meta-sensíveis. Note-se, em particular, que os valores que ocupam o terceiro e quarto lugares são tais somente se subordinados ao valor superior da alma. Se acaso forem antepostos ou de algum modo opostos aos valores da alma, tornam-se negativos e tornam-se contra-valores.

O anti-hedonismo de Platão se baseia na distinção das várias funções ou partes da alma, prazer é entendido, embora com algumas oscilações, como prerrogativa da alma mais do que do corpo. E sendo três as partes da alma, concupiscível, a irascível e a racional, haverá três espécies de prazer: os prazeres ligados às coisas materiais e às riquezas (próprios da alma concupiscível), os prazeres ligados à honra e à vitória (próprios da alma irascível) e os prazeres do conhecimento (próprios da alma racional). Os prazeres da terceira espécie são muito superiores, em primeiro lugar porque muito superior é a faculdade racional da alma à qual se referem, em segundo lugar porque os objetos que provocam os prazeres da razão são muito superiores aos que provocam o prazer das outrus partes da alma. Mais ainda, somente os prazeres da terceira espécie silo "autênticos", enquanto as outras duas espécies de prazer são "espurias". Com efeito, o prazer é, em geral, como o "encher" e o "tornai repleto" algo vazio; mas nem o corpo e as partes inferiores da alma são capazes de reter o que recebem nem seus objetos são capazes de saciar, porque não são o ser verdadeiro, ao passo que a parte superior, tornando-se plena com o verdadeiro ser, experimenta em sumo grau o prazer.


Ao homem, que é uma alma num corpo, não convém uma vida de pura inteligência que é indubitavelmente a vida mais divina, mas, justamente porque é tal, é vida mais do que humana, é vida dos deuses eternos. Mas também não convém ao homem uma vida de puro prazer, que é uma vida puramente animal. Ao homem convém uma vida "mista" de inteligência e de prazer.Mas, em primeiro lugar, deve-se notar que os prazeres que Platão aceita na "vida mista" são somente os "prazeres puros", vale  dizer, os prazeres das atividades espirituais e das percepções; em segundo lugar, deve-se também notar que a direção permanece inteiramente confiada à inteligência e somente a esta.

Qual a finalidade de seguir a moral?

No diálogo Górgias, pela primeira vez, Platão afronta todos os problemas fundamentais relativos à vida do homem, que se lhe apresenta dramaticamente, como em nenhum dos escritos precedentes, em todas as suas mais gritantes e trágicas contradições: Sócrates, o justo, foi morto e, ao contrário, o injusto parece triunfar; o virtuoso e justo está à mercê do injusto e sofre todas as suas agressões; o vicioso e o injusto parecem, ao contrário, felizes e satisfeitos com as suas prepotências; o político justo sucumbe, o político sem escrúpulos se impõe; o bem é que deveria triunfar e, ao contrário, é o mal que parece prevalecei. De que lado está a verdade? Cálicles, um dos protagonistas do dia logo, que exprime as tendências mais extremistas amadurecidas naquela época (como vimos, falando dos epígonos dos sofistas), não hesita em proclamar, com a mais deslavada impudência, que a verdade está do lado do mais forte, isto é, daquele que sabe zombar de tudo e de todos, gozar de todos os prazeres, satisfazer a todas as paixões, saciar todo desejo, buscar todos os meios que servem a seus fins; a justiça é uma invenção dos fracos, a virtude uma estultície, a temperança um absurdo; quem se abstém dos prazeres, é moderado e governa suas paixões é um estulto, porque a vida que ele vive é, em realidade, igual a uma morte.


É justamente em resposta a essa visão extrema que Platão, avançando além de Sócrates, reencontra a verdade do ensinamento órfico-pitagórico. Cálicles e todos aqueles (pseudo-sofïstas e homens políticos do tempo) dos quais Cálicles é símbolo dizem que a vida do virtuoso, que mortifica os instintos, é vida sem sentido e, portanto, morte. Mas, que é a vida? E que é a morte? Essa que chamamos vida não poderia acaso ser morte e, ao contrário, ser verdadeira vida aquela que começa com a morte?

É claro que, para Platão, torna-se fonte de solução justamente a resposta ao problema que Sócrates deliberadamente deixara sem solução, ou seja, o problema da sorte escatológica da alma. Se a alma fosse mortal e se, juntamente com a morte do corpo, também o espírito do homem se dissolvesse no nada, a doutrina de Sócrates não seria suficiente para refutar a de Cálicles. Para Platão, não basta dizer que o homem é a sua psyché, como Sócrates dizia, mas é preciso estabelecer ulteriormente se essa psyché é ou não imortal. Somente a resposta a esse problema passa a ser verdadeiramente decisiva.

Em consequência, a doutrina da imortalidade passa ao primeiro plano e dá nova feição à ética e à política.


Viver para o corpo (como faz a maior parte dos homens) significa viver para aquilo que está destinado a morrer; viver para a alma significa, ao contrário, viver para aquilo que está destinado a viver sempre, significa viver purificando a alma por meio de um progressivo desapego do corpóreo.A purificação da alma se realiza quando a alma, transcendendo ou sentidos, toma posse do mundo do inteligível puro e do espiritual, unindo-se a ele como ao que lhe é congênito e conatural. A purificação aqui, diversamente das cerimônias iniciáticas dos órficos, coincide com o processo de elevação ao conhecimento supremo do inteligível. É necessário refletir justamente sobre esse valor de purificação reconhecido à ciência e ao conhecimento, para compreender a novidade do "misticismo" platônico: ele não é uma contemplação alógica e extática, mas um esforço catártico de pesquisa e de subida progressiva ao conhecimento. Assim se entende perfeitamente por que o processo do conhecimento racional seja, para Platão, processo de conversão moral: na medida em que o processo do conhecimento conduz-nos do sensível ao supra-sensível, converte-nos de um mundo a outro e nos leva da falsa à verdadeira dimensão do ser. Portanto, conhecendo, a alma se cura, purifica-se, converte-se e se eleva. Nisso consiste a sua virtude.

Se, nesta vida, o justo é vítima das opressões dos injustos, ao ponto de ser impunemente vítima de bofetadas, pois bem, ele sofre no corpo e pode, em caso extremo, perder o corpo; mas, perdendo o corpo, perde o que é mortal, ao passo que salva a alma para a eternidade.

O valor desse projeto

Platão desejava o domínio inconteste da racionalidade, com a qual coincidem substancialmente a virtude (a virtude é, fundamentalmente, racionalidade) e também a liberdade (a liberdade é liberdade da razão em face dos instintos e dos impulsos alógicos, e se revela no domínio que a razão exerce sobre eles).

Um comentário:

  1. Vamos dizer que os iluministas quiseram destruir toda a filosofia escolástica , tornando a disassociar a filosofia grega da filosofia cristã.

    Rousseau foi um expoente nisso , influenciando membros da 'intelligentsia' até hoje . Paulo Freire que o diga . E Gramsci também.

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