quarta-feira, 2 de maio de 2012

A consciência e a culpa


Queria tratar aqui da culpa.  è notoriamente sabido de campanhas contra a violência doméstica e contra a mulher. A mídia toda hora enfatiza que muitas mulheres são agredidas por homens diariamente e apresentam estatísticas e até promulgaram a lei Maria da Penha para tentar "coibir" a violência (não tratarei dos absurdos da lei).

Mas a mídia pouco fala das agressões contra homens. Vejam um trecho da entrevista do historiador israelense Martin Van Creveld a revista Veja:

"Veja – As estatísticas sobre agressões contra mulheres não colaboram com as teses feministas?
Van Creveld – Não as estatísticas que eu cito em meu livro. Pesquisas americanas e canadenses mostram que o número de agressões entre homens e mulheres é igual, 25% para cada sexo. Nos outros 50% dos casos, os ataques são mútuos. Além disso, 20% mais mulheres cometem danos graves aos seus parceiros. Mais: as mulheres cometem três vezes mais agressões com uso de armas do que os homens. Por fim, os homens, com medo de serem ridicularizados ou presos, costumam não dar queixa quando apanham de uma mulher."

A mídia tenta passar a imagem de um homem violento e da mulher como uma vítima indefesa. nunca fala das agressões cometida por mulheres, a mulher é mostrada como delicada, mas o homem é mostrado como bruto. Tudo isso parece colaborar com que os homens sintam consciência pesada e sintam-se como que responsáveis pelo fato das mulheres serem agredidas. Pelo simples fato  dele ser do sexo masculino, pode se carregar uma nódoa, como se ele fosse um agressor em potencial.

Citarei um monólogo da peça Boris Godunov sobre a culpa e a consciência.

A peça Boris Godunov de Aleksander Púchkin

A peça Boris Godunov (1831), a mais importante obra teatral de Aleksander Púchkin, o grande poeta da Rússia e que não segue o modelo clássico de estar dividido em cenas e atos.  O contexto é um período conturbado da história russa, conhecido como “Tempo das Perturbações”. Trata-se do longo legado trágico do reinado de Ivan, o Terrível (1530-1584), que, ao assassinar o próprio filho e sucessor, abre uma caixa de Pandora verdadeiramente shakespeareana. Tudo começa com as dúvidas sobre o outro filho de Ivan, tido como doente mental. Isso inaugura um longo problema sucessório que desencadeará inúmeros acontecimentos e mobilizará vários personagens ao longo das décadas seguintes, de parentes reais a regentes, passando por impostores que, passando-se por um príncipe desaparecido (assassinado), lograrão subir ao trono para serem mortos em seguida. Boris Godunov (1551-1605) é um dos principais personagens históricos do período, tendo sido um poderoso regente real.

"TSAR (entra)
Alcancei o mais alto poder;
Já é o sexto ano em que reino tranquilo.
Mas não há felicidade em minha alma. Não é assim que
Na juventude nos apaixonamos e cobiçamos
Os prazeres do amor, mas assim que nos saciamos
Com as doçuras do coração na posse momentânea,
Esfriamos, nos entediamos e nos afligimos?
E em vão que os magos me vaticinam
Longos dias, dias de poder sereno.
Nem o poder, nem a vida me alegram;
Pressinto trovões e desgosto vindos dos céus,
Não há felicidade para mim. Pensei tranquilizar
Nosso povo com abundância e com glória
E com gestos generosos o seu amor granjear,
Mas abandonei estas solicitudes vazias;
O poder vivo é odioso para a plebe,
Ela só sabe amar os mortos.
Que loucos somos, se deixamos o rumor do povo .
Ou seu clamor ardente alarmar nosso coração!
Deus enviou à nossa terra a fome,
O povo uivava, caído em martírio;
Eu lhes abri os celeiros, eu esparramei
Ouro entre eles, eu lhes dei trabalho:
E aquela gente endiabrada me amaldiçoou!
O fogo do incêndio exterminou suas casas,
Eu lhes construí novas vivendas,
E eles me culparam pelo incêndio!
Este é o juízo da plebe: ai de quem buscar o seu amor.
No seio da minha família pensei encontrar deleite,
Pensei em fazer minha filha feliz com o matrimónio:
Como uma tempestade, a morte arrebatou-lhe o noivo...
E os rumores ainda maliciosamente reprovam
Como culpado pela viuvez da filha
Eu, eu, o pai infeliz!
Qualquer um que morra, sou sempre o assassino secreto:
Eu precipitei o fim de Feódor,
Eu envenenei minha irmã tsarina,
Humilde monja... Tudo eu!
Ah! Eu sinto que nada pode
Nos consolar das dores mundanas.
Nada, nada... talvez só a consciência.
Quando sadia, ela triunfa
Sobre a maldade, sobre a sombria calúnia.
Mas se ela tiver uma única nódoa,
Uma única, aparecida por acaso,
Daí é a desgraça! Como em uma doença contagiosa
A alma se destrói, o coração se impregna de veneno,
Como um martelo, o remorso bate às orelhas,
E a gente se enjoa, e a cabeça roda,
E meninos ensanguentados saltam aos olhos...
Seria bom fugir, mas não tem para onde... Horror!
Pobre daquele cuja consciência não está limpa."

Ponderações:

A peça não trata diretamente da culpa de agredir as mulheres, mas trata do fato de imputar-lhe fatos que você não praticou e que a consciência tranquila deve triunfar sobre a calúnia.
Se existem homens agredindo mulheres, não é você que agrediu, não deve ter culpa ou remorso por ser homem, até porque os agressores mesmo são adorados pelas mulheres, basta ver Dado Dolabela, Chris Brown, o maníaco do Parque nunca estão sozinhos, tendo uma legião de fãs e namoradas.
Quando vierem com a conversa de que os homens são potencialmente agressores, basta meter a real nela e sair com a consciência limpa, porque você não fez nada de errado para que possa carregar a culpa.

Um comentário:

  1. Perfeito.

    Há um campanha colossal, interminável e odiosa contra nós homens. Disso, derivam consequências trágicas e letais para os homens: 1º) Faz com que os homens vivam sob uma eterna atmosfera de autoculpa; 2) Faz com que toda a sociedade acredite que os homens são monstros e culpados por definição; 3) Como consequência, e além de tudo isso, é plantada na cabeça dos homens a semente da resignação, para que nós aceitemos de forma conformada e passiva toda espécie de monstruosidade, opressão e preconceito contra nós próprios.

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